Edmilson
Lopes Júnior
De Natal (RN)
Transito
em muitos lugares da região metropolitana de Natal. O que me chama a atenção
nos bairros populares, ou das classes médias baixas, para continuar no mesmo
terreno precário da imprecisão sociológica, é a potência dos aparelhos de som
que ocupam espaços que deveriam ser públicos. São carros populares, ou nem tão
populares assim, como picapes cabine duplas, com potentes estruturas de som em
cima de calçadas ou canteiros de ruas. E aí somos todos obrigados - transeuntes
e azarados vizinhos - a ouvir uma barulheira que somente com muita generosidade
e espírito pluralista poderíamos definir como "música". Destacam-se,
nessa terra de ninguém, os grupos de forró.
O
que acontece na periferia da capital do Rio Grande do Norte é apenas uma
amostra do que corre solto nas pequenas e médias cidades do interior do
Nordeste. Nestas, moças e rapazes com algum dinheiro no bolso atormentam a vida
de todos. Som alto e bebedeiras até a madrugada, eis o novo padrão de
comportamento da juventude nordestina. No agreste e no sertão.
Para
completar, além dos carros com som nas alturas, temos canteiros de ruas e
praças, onde deveriam existir equipamentos de uso coletivo para crianças e
adolescentes, tomados por botecos nos quais se vendem cervejas, cachaça e
churrasquinho. Neles, o som advém de aparelhos de DVD acoplados a pequenos
telões. O mesmo som se difunde, com o acompanhamento, na tela, das imagens de
loiras de farmácia em suas duvidosas performances. E as letras? Parece-me que,
hoje, não se pode mais fazer uma letra de forró sem as palavras
"puta", "raparigueiro", "cabaré" e
"cachaça". Miséria total!
Em
Parnamirim, onde moro, esses elementos dominam a paisagem. Não raro, na
proximidade de colégios públicos e privados. No lugar onde deveriam estar
crianças brincando, encontramos marmanjos e candidatas derrotadas a patricinhas
bebendo e se rebolando. De vez em quando, gritos primais e vivas à "nação
forrozeira". Quem consegue ouvir, uma música apenas, de um das bandas de
forró, sabe que essa é a nação do deboche e do mau gosto. Mas, parece-me, é uma
nação vitoriosa. Para a sua supremacia conta com a omissão do ministério
público e a cumplicidade demagógica das autoridades municipais.
Se
gosto se discute, como nos ensina o sociólogo Pierre Bourdieu, o mau gosto
musical que domina as nossas paisagens merece uma profunda discussão. Se não
por outros motivos, pelo menos porque o domínio da tal "nação
forrozeira" sobre o espaço público é, com certeza, mais uma expressão da
derrota da cidadania entre nós.
Edmilson Lopes Júnior é
professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Do ApoDiário: em nossa cidade tá igualzinho.
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2 comentários:
expetacular parabéns!
Parabéns Edmilson, basta dessas porcarias de "bandas" que dominam a mente vazia de alguns cidadãos.
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